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Os diversos e variados falares do Brasil

O Editor: Anna D.
Apesar de sermos todos falantes da língua portuguesa, no Brasil não podemos falar em unidade cultural, vide as enormes diferenças históricas, sociais e culturais encontradas em nosso território. Essas diferenças influem diretamente na fala, que pode apresentar variações significativas de estado para estado. As variações dizem respeito, sobretudo, às expressões idiomáticas, cuja origem fica guardada entre os falantes de uma determinada região ou comunidade, e aos sotaques, que permitem uma verdadeira incursão pela fonética e fonologia do português. Vejamos a seguir:
 
Falares do Brasil
O "R" caipira do interior de SP, MT, MG, PR e SC deve-se aos indígenas que aqui moravam e que não conseguiam falar o "R" dos portugueses. Não havia o som dessa letra em muitos dos mais de 1200 idiomas da região.Então, na tentativa de se pronunciar o R, acabou-se criando essa jabuticaba brasileira, que não existe em Portugal. A isso também se deve o fato de muitas pessoas até hoje em dia trocarem L por R, como em farta (falta) e frecha (flecha).
Falares do Brasil

Com a chegada de italianos a SP, o sotaque do paulistano incorporou o R vibrante atrás dos dentes, porta como "porita", e em alguns casos até incorporando mais Rs: carro como "caRRRo", se quem fala for de Mooca, Brás e Bexiga, bairros com bastante influência italiana.
O R falado no RJ deve-se ao fato de que quando a Corte portuguesa pisou aqui, a moda era falar o R como dos franceses, saindo do fundo da garganta, como: "PaRRRRi".
A elite carioca tratou de copiar a nobreza, e assim, na contramão do R caipira e 100% brasileiro, o importou seu som de R dos franceses. Do mesmo modo a Realeza trouxe o "S" chiado dos cariocas.
 
Falares do Brasil
 
As regiões Norte e Sul receberam a partir do século XVII imigrantes dos Açores e ilha da Madeira, lugares onde o S também vira SH. Viviam mais de 15 mil portugueses no Pará, 4ª maior população portuguesa no Brasil à época, o que fez os paraenses também incorporarem o chiado.
Já Porto Alegre misturava indígenas, portugueses, espanhois e depois alemães e italianos, toda essa mistura resultou num sotaque sem chiamento.
Curitiba recebeu muitos ucranianos e poloneses, a falta de vogais nos idiomas desses povos acabou estimulando uma pronúncia mais pausada de vogais como o E, para que se fizessem entender, dando origem ao folclórico "leitE quentE".
 
 
Falares do Brasil
 
 
Em Cuiabá e outras cidades do interior do Mato Grosso preservou-se o sotaque de Cabral, não sendo incomum os moradores falando de um "djeito diferentE". Os portugueses que se instalaram ali vieram do norte de Portugal e inseriam T antes de CH e D antes de J. E até "hodje os cuiabanos tchamam feijão de fedjão".
Junto com os 800 mil escravos também foram trazidos seus falares, e sua influência que perdura até hoje em se comer o R no final das palavras: Salvadô, amô, calô e a destruição de vogal em ditongos: lavôra, chêro, bêjo, pôco, que aparece em muitos dialetos africanos.
A falta de plurais, o uso do gerúndio sem falar o D (andano, fazeno), a ligação de fonemas em som de z (ozóio, foi simbora) e a simplificação da terceira pessoa do plural (disséro, cantaro) também são heranças africanas.
Por último mas não menos importante, nosso idioma foi imensamente influenciado por palavras de origem indígena, faladas pelos povos que aqui já viviam antes da chegada dos colonizadores europeus, particularmente, os portugueses.
Falares do Brasil
Por esta razão, o Atlas Linguístico do Brasil, um esforço conjunto de estudiosos que mapearam a língua falada no Brasil em suas diversas variantes, possui uma função social inestimável: derruba velhos preconceitos sobre sotaques e, sobretudo, a desmistificar a ideia equivocada de que possa existir o “falar correto” e o “falar errado”. Não estamos falando aqui da norma culta, que é outro departamento. 
Dissociar a língua de seu falante é um dos erros que propiciam a perpetuação do preconceito linguístico, que desconsidera o fato de o usuário do idioma ser um sujeito histórico e social, imbuído de inúmeras particularidades que influenciam na sua maneira de falar.
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